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Assertividade

 

 

Existem diversos estilos de comunicação que utilizamos no nosso quotidiano, ainda que para cada um de nós exista um estilo que melhor nos define, aquele ao qual recorremos com maior frequência. Contudo, a forma como lidamos com os nossos pais é bastante diferente da forma como lidamos com um namorado ou um amigo, e muito diferente da forma como reagimos perante figuras de autoridade. Para mais, em determinadas situações é fundamental recorrer a estilos específicos, nomeadamente em situações de ameaça em que estamos claramente em desvantagem, e que nos será provavelmente mais vantajoso agirmos de forma passiva.

 

 

 

 

 

 


 

Para diversos autores, podem distinguir-se quatro tipos de estilos de comunicação: agressividade, passividade, manipulação e assertividade; apesar de alguns autores referirem apenas o estilo agressivo, o passivo, o passivo-agressivo e o assertivo. Iremos contudo optar por descrever as primeiras diferenciações já que a inclusão do estilo manipulativo, nos parece bastante relevante.
O comportamento agressivo implica uma necessidade de dominação dos outros, uma procura de atingir os seus objectivos sem ter em conta as necessidades e desejos dos outros, impondo a sua vontade de forma agressiva. Este estilo comunicacional reveste-se ainda de intolerância, recorre à ironia e ao sarcasmo, assim como à intimidação. Recorrer frequentemente a este tipo de comportamento leva a que os outros, sentindo-se agredidos, se afastem, ou em reflexo, tenham para com o indivíduo comportamentos agressivos (agressividade gera agressividade).
As pessoas que recorrem preferencialmente a este tipo de comunicação geralmente são pessoas frustradas, com receio do mundo e dos outros, e com sentimentos de rancor, nomeadamente em consequência de experiências negativas que guiam a sua necessidade de se manter alerta e em constante preparação para o ataque, como se vivêssemos numa perspectiva do matar ou morrer.
Em oposição encontramos o estilo comunicacional passivo, no qual o individuo respeita mais os desejos dos outros do que os seus, fugindo do conflito o mais possível e subvalorizando os seus próprios sentimentos. São geralmente pessoas isoladas, que se deixam manipular, ansiosas tanto a nível verbal quanto não verbal. Isto ocorre geralmente em decorrência de problemas de auto-estima e de padrões psicológicos de repressão e de auto-desvalorização. Em consequência tornam-se pessoas ressentidas, invisíveis e incapazes de comunicar adequadamente com os outros. A auto-estima é, aliás, um dos conceitos mais próximos do da Assertividade, como aliás defende Castanyer (2002).
O comportamento manipulador tem características comuns aos estilos comunicacionais anteriores, conjugados com características singulares. Assim, são pessoas que evitam o confronto directo e o envolvimento emocional com as pessoas, reagindo de formas diferentes mediante as situações (tem várias caras), frequentemente com atitudes pouco claras. As pessoas que recorrem a este estilo manipulam os outros para conseguirem atingir os seus objectivos utilizando frequentemente técnicas de chantagem, especialmente ao nível emocional, ao provocar sentimentos de culpa ou piedade. Tornam-se assim pessoas em que ninguém confia, tornando-se mesmo vingativos quando são desmascarados. Este tipo de indivíduos é frequentemente fruto de meios familiares e sociais onde a manipulação era comum, num contexto de vida em que não há confiança nos outros.
Por fim, o comportamento assertivo será aquele que, equilibradamente, permite que expressemos e reivindiquemos os nossos sentimentos e desejos, sem desrespeitarmos o Outro. Assim será possível manter relações apropriadas com os outros, a vários níveis, até porque ao utilizar este metido comunicacional, somos capazes não só de expressar o que se sente e quer, mas também negociar e fazer compromissos, permitindo gerir melhor situações de conflito. Utilizando este estilo de comunicação, obtemos uma linguagem clara e concreta, aberta à intervenção do outro, à interacção com ele. O indivíduo não se esquece de si e dos seus direitos, mas também não esquece que o outro também tem o seu espaço, utilizando uma linguagem que não dá lugar a mal entendidos e as segundas intenções, argumentando de forma honesta.
Na prática, no comportamento assertivo os indivíduos utilizam uma linguagem fluida, clara, com críticas construtivas e interesse em saber a perspectiva do outro, mas a linguagem não verbal é igualmente importante, apresentando calma e descontracção.
Porque recorremos a um estilo e não a outro? Para além do já indicado relativamente aos aspectos psicológicos inerentes aos diversos estilos, nessa escolha interferem também determinados factores como a preponderância de mitos como aquele que nos impele a considerar que reivindicar os nossos direitos de forma assertiva é má educação, como se a passividade fosse realmente a expressão de boa educação, o que se pode verificar desde cedo na forma como somos condicionados (leia-se ensinados) pelos nossos progenitores a ser passivos perante determinadas pessoas, nomeadamente perante eles mesmos, ou figuras de autoridade como professores. Outro mito relevante é o que indica que devemos ser modestos, isto é, não nos valorizarmos excessivamente, nem aceitarmos facilmente elogios, como se deles não fossemos merecedores. Podemos confirmar este mito através das reacções populares ao treinador José Mourinho. É um homem que já foi considerado o melhor treinador do Mundo, com diversos prémios e o mérito mais do que reconhecido em resultados reais; no entanto muitos denominam-no de arrogante, pedante e outros adjectivos similares, apenas e somente porque ele tem a coragem de dizer “I’m the special one!”. Saber reconhecer o seu próprio mérito, as suas inúmeras capacidades como treinador, é visto pelo povo como demonstração de arrogância, ao invés de ser perspectivado como um auto-conceito adequado e coerente com situações factuais.
Em suma, para que uma pessoa possa utilizar predominantemente a assertividade deverá ter por base sentimentos de auto-estima, de determinação, empatia, adaptabilidade, auto-controlo, tolerância à frustração, e capacidade de se relacionar com os outros, reconhecendo a sua liberdade individual sem descurar o espaço do Outro.

 

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